quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

III Copa América Alternativa



Entre os dias 23 e 26 de janeiro, ocorreu em Resistencia, Chaco, Argentina, a III Copa América Alternativa Hombre Nuevo. Mais de trinta equipes masculinas e femininas participaram da edição. O Pelada da Esquerda esteve representado por Marcelo Forró, Luis Ernesto Acosta e Gabriel Marques, que se juntaram aos camaradas do Lado B, de São Paulo, e de La Cuchimarra, da Argentina, formando a equipe vice-campeã do torneio. 

Com um empate por 3 x 3 e uma vitória por 3 x 1 na fase de grupos, Lado B garantiu a primeira colocação e a vaga nas semifinais. Com um gol no final do jogo, venceu por 2 x 1 a semifinal. Apesar do domínio do jogo na final, a equipe foi derrotada por 1 x 0, voltando para o Brasil com a segunda colocação e a grata experiência da união entre argentinos e brasileiros.

A III Copa América também teve atividades culturais, como teatro, apresentações musicais e exibição de documentários. O homenageado do torneio foi o estudante colombiano Camilo Agudelo, falecido em 2013 e jogador do Pelada da Esquerda na I Copa América, em 2012, em Jesus María.

No vídeo acima, está a Abertura Oficial do torneio, que contou com a homenagem a Camilo Agudelo, a distribuição de calendários com a logomarca da Copa para as equipes participantes, a leitura da saudação da Comissão de Paz das FARC e a saudação brasileira, relatando as lutas no país e a campanha #NãoVaiTerCopa, enfrentando os ditames da FIFA.

O Pelada da Esquerda, em reunião, decidiu defender que a periodicidade da Copa América passe a ser bienal, para que as equipes tenham mais tempo para garantir os recursos e participar deste importante evento esportivo, político e cultural.

Viva Che Guevara! Viva o Futebol como prática social dos povos! Viva a Luta da Juventude e da Classe Trabalhadora!

domingo, 13 de outubro de 2013

III Copa América Alternativa Hombre Nuevo

O Pelada da Esquerda F. C. esteve presente nas duas edições da Copa América Alternativa e já se organiza para participar da III, entre os dias 23 e 26 de janeiro do próximo ano, também na Argentina. Segue abaixo a convocatória explicativa sobre o torneio, traduzida para a língua portuguesa.

III COPA AMÉRICA ALTERNATIVA HOMBRE NUEVO

23 a 26 de janeiro de 2014

RESISTENCIA - CHACO –ARGENTINA

De 23 a 26 de janeiro de 2014 ocorrerá na cidade de Resistencia, capital da província de Chaco, na Argentina, a III Copa América Alternativa Hombre Nuevo, que será a terceira experiência sul-americana de futebol alternativo. Depois de Jesús María, na província de Córdoba (2012) e Gualeguaychú, em Entre Ríos (2013), a Copa acontecerá novamente na Argentina.

Nas demais ocasiões, participaram clubes e jogadores do Brasil, Chile, Inglaterra, Lituânia, Bélgica, Alemanha, além de equipes das cidades de Mar del Plata, Rosario, Córdoba, Gualeguaychú, Buenos Aires e Chaco. A primeira experiência foi documentada pelo Colectivo Hombre Nuevo, que realizou o filme "Copa Hombre Nuevo, una película de fútbol", que retrata o espírito do evento.

A maioria dos clubes participantes foi formada a partir de espaços de militância, no âmbito universitário, organizações sociais e trabalhos em bairros populares de suas regiões e outros espaços de organização. É similar entre os clubes o questionamento do "futebol para poucos", onde geralmente podemos assistir ao futebol, mas não praticá-lo. A luta pelo direito das crianças e jovens ao esporte também nos une, questionando os monopólios privados e os negócios governamentais dominados pela FIFA e suas expressões nas confederações de cada país. O desafio é fazer um futebol diferente ao que hoje é dirigido pelas grandes empresas que utilizam este esporte universal como janela comercial, questionando esse futebol de mercado que hoje monopólios e governos tentam nos amarrar.

Em 2013, em particular, os irmãos brasileiros têm protagonizado um processo de intensas mobilizações que teve como pano de fundo o questionamento aos gastos que os governos têm realizado para garantir os megaeventos esportivos (Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014, Jogos Olímpicos 2016) e a falta de investimento em moradia, saúde, educação e ao próprio serviço de transporte público. Semelhante situação ocorre na Argentina, onde para os setores populares é cada vez mais difícil ingressar nos estádios, seja pelo valor dos ingressos como pelo contexto de violência promovida pelos arruaceiros em conivência com as políticas e o governo.

Sede: Resistencia - Chaco - Argentina

Chaco é terra para lutar, onde cresce a luta dos trabalhadores e do povo, protagonizada pelos professores em busca de aumento salarial e orçamento para a educação; os bairros por trabalho, terra e moradia; os povos nativos - Qom, Mocoit, Wichí - por seus territórios; e os campesinos pobres por sua subsistência diante do avanço da fronteira do agronegócio.

A semelhança do povo chaqueño, seus padecimentos e sua luta, pela conquista de seus direitos, com outras equipes que vêm de outros lugares, expressaram o internacionalismo com a luta e a resistência e rebeldia dos povos latino-americanos. A III CAA "Hombre Nuevo" não escapa a estes contextos e essas lutas e será espaço de troca de experiências de organização e militância com o futebol como elo entre diferentes partes do mundo.

A partir do futebol, buscamos contribuir para a construção de uma cultura que seja parte destes contextos de rebeldia, que denuncie as injustiças e possa mostrar uma realidade que muitas vezes é escamoteada, uma cultura que lute pelos direitos do acesso ao esporte, como parte das reivindicações que mobilizam povos ao redor de nosso continente.

Sobre as equipes locais

Chaco participou da segunda experiência de futebol alternativo em 2012, com dois times: 

"Los Imer", equipe masculino. A Copa entusiasmou a garotada do CUBa-MTR, jovens trabalhadores da construção que constroem moradias, destinadas comunitariamente aos integrantes desta organização. Armaram a equipe em horas e batizaram-na "los Imer" em memória a Ibmer Flores, jovem Qom assassinado que viajaria para se comprometer com outro futebol, solidário e internacionalista.

"Las rebeldes", equipe feminina que se fez nos campos de futebol feminino no torneio que as reúne, integrando a força para construir a Copa, com o objetivo de derrubar barreiras, contra a discriminação e o machismo.

Para ambas as equipes, foi o início de uma experiência que seguem buscando aprofundar e caminhar conjuntamente.

Rumo à III Copa América Alternativa!

Apoio à Greve d@s Trabalhador@s da Educação no RJ

Na capital dos megaeventos esportivos, não podemos dissociar o Esporte da Política, tampouco ignorar a importância do processo educacional de formação pelo qual passamos.

No Rio de Janeiro, o Governador Sérgio Cabral e o Prefeito Eduardo Paes não apenas sucateiam a Educação Pública, como aumentam a repressão contra @s Educador@s, orientando a Polícia Militar a agir. De maneira truculenta, companheir@s foram atacados com cassetetes, bombas, gás de pimenta durante a última semana.

O Pelada da Esquerda F. C. e o Soviet F. C., equipes de Futebol alternativo, manifestam-se contra a violência realizada pelo Estado e em total e irrestrito apoio à greve dos profissionais da Educação!

FORA CABRAL E RISOLIA! FORA PAES E COSTIN!


Avante, Educador@s!

quarta-feira, 27 de março de 2013

Bingo da Solidariedade

De 18h até meia-noite deste sábado 23 de março de 2013 o Pelada da Esquerda FC realizou uma animadíssima confraternização, com comes e bebes levados pelos participantes. O evento, denominado BINGO DA SOLIDARIEDADE, contou com a participação de mais de 20 pessoas e distribuiu nove prêmios doados pelos jogadores durante as quatro rodadas.


A ideia da realização do Bingo surgiu na Argentina, durante os debates que sucederam o infeliz acontecimento do furto de objetos de valores e dinheiro na barraca de dois companheiros do time. Se a arrecadação de pouco mais de R$240,00 com o Bingo não chega nem perto do prejuízo financeiro e emocional dos companheiros, sem dúvida a ação solidária demonstrou que podemos e devemos estimular práticas que caminhem contra a lógica hegemônica e busquem a efetiva construção de um novo ser humano.

Durante a II Copa América Alternativa de Futebol, evento onde ocorreu tal ação alheia à proposta e aos objetivos do evento, representantes das variadas equipes propuseram realizar ações de solidariedade com o intuito de minimizar os companheiros que foram prejudicados. 

Agradecemos a todos os presentes e pretendemos realizar mais ações desta equipe que não pretende apenas vivenciar a prática desportiva, mas construir e fortalecer novos laços para uma nova sociedade.

Vídeo com o discurso final, proferido por nosso lateral Marcelo Forró:




 Marcelo e Luiza mostrando seus prêmios do Bingo da Solidariedade.

 Até que sortear e cantar as pedras nossos jogadores conseguiram fazer!

 Nosso centroavante Mauricio e a dupla de zaga Bruno G. e Marcelo Forró.
Detalhe para a camisa dos camaradas ingleses Easton Cowboys and Cowgirls.

Nosso zagueirão Marcelo, o artilheiro Gabriel e Luiza.
Detalhe para a camisa dos camaradas argentinos do Club Che Guevara. 

Ambiente de animação, confraternização e solidariedade.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Pelada da Esquerda 3 x 1 Soviet



No último sábado, 16 de março de 2013, Niterói novamente recebeu os peladeiros de esquerda para novo confronto. No campo da UFF, no Gragoatá, foi onde a equipe obteve sua primeira vitória, quando venceu por 2 x 0 os então campeões da América - Autônomos (São Paulo) no ano passado. 

Passando ainda por uma crise de identidade ou assemelhando-se às equipes itinerantes que migram pelo país, o time adversário, que de PSTU Rio, passou para Matanzas e agora se chama Soviet, foi o adversário da vez. No primeiro confronto entre as equipes, magra vitória por 1 x 0 após lambança de nossa zaga no Fundão. A revanche era necessária e a fome de gols do poder ofensivo da esquerda peladeira estava se aquecendo. Com uma arbitragem inicialmente sem apito, tivemos um gol mal anulado do estreante Allan. Contudo, a confiança na vitória sobre os trotskistas seguia firme e forte.

Assemelhando-se a uma Assembleia com muitas disputas, o jogo foi interrompido inúmeras vezes por conta do destempero de alguns jogadores. Felizmente tudo resolvido de maneiras melhores que apurações de votos de eleições estudantis ou sindicais! E, após abrir 3 x 0, ainda foi possível colocar a rapaziada caloura que não precisou passar pelo trote para jogar. Com a perda de parte do pouco entrosamento existente, o Soviet fez o gol de honra com o capitão, que não comemorou o gol em respeito ao Pelada da Esquerda! Foi a quarta vitória do PEFC, que está invicto em Niterói!

Confira os vídeos:






Eis as notas:

Geraldo Fidélis: só de chegar ao campo com o uniforme do Botafogo, já assusta os adversários: "Ele é da mesma escola do Jefferson? Vai ser complicado chutar a gol...". Em duas partidas, duas vitórias. Só não pôde evitar o gol após o presente de nosso zagueiro. NOTA 8,5.

Gustavo "Braço": o lateral do Columbandê mostrou a mesma disposição de sempre, na marcação e apoiando o ataque. Entretanto, se a disposição já conhecíamos, o mesmo não podemos dizer de seus cabelos... Brilhante lançamento para o gol de Mauricio. NOTA 7,0.

Marcelo Dominguez: incorporou o silogismo de "quanto mais velho, menos cabelo / quanto menos cabelo, mais impaciência / quanto menos paciência, mais esquentadinho" e precisou até sair para refrescar a cuca. Na defesa, raramente os atacantes passavam. Quando subiu ao ataque, mais uma assistência! NOTA 6,5.

Pedro Santos: formou excelente dupla de zaga com Marcelão e mostrou a toda a esquerda como dar um carrinho com prudência, sem machucar o coleguinha. NOTA 7,0.

Pedro Cardoso: novamente surpreendeu ao confirmar a presença em cima da hora e correspondeu na lateral. Encontrou sua posição e segue aperfeiçoando. NOTA 6,5.

Renato Sarti: teve aulas de Futebol nas terras de macaba doce, no programa CEMEAES e enfim conquistou uma vitória com nossa camisa! Boa atuação! BOTA 7,0.

Allan Almeida: nosso estreante e seu exuberante e avantajado físico começou muito bem! Teve um gol mal anulado em chute de fora da área, brincou no meio de campo com bons passes, mas brigou com o vento na hora dos lançamentos, sua especialidade nos campos de grama sintética. Junto ao Gabriel, os únicos que chegaram antes das 13:30. NOTA 7,0.

Rodrigo Mourelle: a corrida mais irreverente em campo, assumiu a responsabilidade... Pelo documento para autorizar nossa entrada! Atuação segura. NOTA 6,0.

Cadu: desde que trocou as chuteiras pelas partituras, não tinha atuação tão elegante. Apesar de ter sentido o longo período sem correr, mandou uma no travessão e atuou novamente como garçom! NOTA 7,0.

Bruninho: seu maior adversário continua sendo a ressaca da noite anterior. Enquanto aguentou, deu seus piques de 9,15 metros. Como bandeirinha, fez bom papel. NOTA 6,0.

Gabriel: falou e disse. A fome de gols se concretizou e anotou mais dois para a história do time - chegando à marca dos 10 gols - aproveitando as duas chances com as assistências de Cadu e Marcelo. Trocou passes, deu opções e cansou no final. Incompreendido por diversos ao tentar disciplinar o jogo quando o clima esquentara. Só não levará nota máxima por conta de seu péssimo desempenho como bandeirinha! NOTA 9,0.

Mauricio Miléo: sofreu pênalti ignorado pela arbitragem, incomodou os adversários e desencantou com a camisa do PEFC após brilhante arrancada. Não fosse a nicotina, teria sido eleito o craque da rodada. Ainda bandeirou e não demonstrou nenhuma soberba em entrevista após o jogo. NOTA 9,0.

Dari: nosso Irad chegou com o gás para renovar quando foi necessário e deu conta do recado. NOTA 6,5.

Christiano: representou a equipe no ato contra a privatização do Maracanã e a caminhada da Praça Saes Peña até o Maraca o fez cansar para o jogo. Mas ainda conseguiu correr e ajudar na marcação, além de contribuir como bandeira! NOTA 6.5.

Clenilson: o toque de experiência no ataque. Seus cabelos brancos impuseram respeito à zaga adversária. Bons passes. NOTA 6,5.

Leandro Alemão: o Charles Chaplin na arbitragem. Com gestos cômicos, nenhum dos times entendia o que marcara - ou não marcara. Em campo, uma mistura de Márcio Theodoro com Fábio Ferreira ao fornecer o gol adversário. Segundo relatos arquivistas, o nome estampado em sua camisa será "Carniceiro"... NOTA 3,0.

Rodrigo Mendes: surgiu nos minutos finais, com nome de craque. Apostamos que será um bom goleiro em outras oportunidades! NOTA 5,0.

Giso: segundo relatos, entrou em campo como convidado ilustre da equipe. Já que dizem... NOTA 5,0.

Leonardo "Panda": foragido em Goiânia, ressurgiu como o Mestre dos Magos, sem ninguém esperar. Emprestado à equipe adversária, não pôde evitar os 3 gols da nossa equipe! NOTA 6,0.

Luiz Felipe Thomaz: emprestado no primeiro tempo ao adversário, quase saiu machucado. No segundo tempo, emprestado ao quadro de arbitragem, cumpriu excelente papel. Só faltou marcar o pênalti do defensor Cabeça em cima do Mauricio! NOTA 7,0.

Karl Leirbag, jornalista alemão retornando às terras brasileiras.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

COPA AMÉRICA ALTERNATIVA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA FUTEBOLÍSTICA PARA ALÉM DO CAPITAL


Bruno Gawryszewski[1]
Gabriel Marques[2]

            O futebol é o esporte que desperta maior entusiasmo no mundo. O dinamismo das partidas, a facilidade em praticá-lo – pode-se jogar “bola” com qualquer objeto que deslize no chão –, e a relativa imprevisibilidade dos resultados são alguns dos elementos que contribuíram para sua grande popularidade. Contudo, assim como qualquer atividade, também o futebol foi apropriado e adequado ao modo de produção capitalista, objetivado em características como a reprodução da lógica do trabalho alienado, a mercantilização e a elitização da prática esportiva e o embrutecimento dos sentidos e valores, na medida em que o valor estético é posto em eclipse pelo valor de troca da mercadoria futebol.

            O homem se faz homem na sua troca material com a natureza e assim possui a capacidade de processar a objetivação de sua subjetividade nos objetos que cria, conferindo-lhes uma forma útil à vida humana, portanto, humanizando-os. Esse processo de objetivação integra a construção da relação homem-mundo e, por isso, não ocorre como individualidades isoladas, mas como prática social / coletiva. Por isso, afirmamos que o indivíduo é um ser social, bem como os sentidos se fazem humanos no processo de socialização do homem.

Nesse sentido, compreendemos que o futebol é uma prática social que se transformou num patrimônio cultural da humanidade, fruto do conhecimento e experiência das gerações anteriores. Portanto, ela é dotada de sentidos que foram ao longo da história construídos e formaram uma materialidade corpórea própria, ou ainda, ensejaram uma cultura corporal que possibilita momentos de catarse coletiva, fazendo com que os indivíduos não vivenciem o mundo de maneira sempre atrelada ao pragmatismo e imediatismo da vida cotidiana. E justamente em oposição aos valores e concepção de mundo difundida pelo capital, é que foi organizada a I Copa América Alternativa (CAA).

A ideia de realizar a CAA surgiu de experiências difundidas na Europa, onde são realizados eventos que reúnem equipes de futebol que discordam dos ditames do futebol-mercadoria, que vão de encontro às práticas fascistas, racistas, machistas e/ou homofóbicas e que decidiram reagir a essa expropriação comercial das práticas culturais. Esses torneios de futebol, inclusive a organização a cada dois anos da Copa do Mundo Alternativa, promovem, ao menos, outro ponto de vista para se vivenciar o esporte, organizado a partir das iniciativas individuais e coletivas dos próprios jogadores, sem que haja preocupações com ações de marketing e propaganda, vendas e lucros muito menos um monopólio de grandes marcas que se revezam como patrocinadores dos megaeventos esportivos. E foi a partir da experiência de jogar a Copa do Mundo em 2010, na cidade de Yorkshire, Inglaterra, que a equipe paulista do Autônomos & Autônomas F.C., em associação com o CSAD Che Guevara – time argentino da cidade de Jesus Maria – se juntaram para organizar a I Copa América Alternativa em janeiro de 2012[3]. Ao tomarmos conhecimento da convocatória do evento, ainda em meados do ano de 2011, decidimos participar dessa empreitada.

A confiança que nos fez resolutos em montar um time para jogar futebol num outro país se originou ainda em meados da década de 2000, quando alguns amigos entenderam que seria importante a realização de um evento que reunisse os antigos e atuais companheiros de vida, a maioria professores e estudantes de Educação Física, militantes do movimento estudantil na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quase que espontaneamente, o evento, realizado em freqüência semestral, ganhou um nome: “Pelada da Esquerda”. Com a divulgação da convocação da I Copa América Alternativa, o grupo de amigos se expandiu, ao juntar forças com companheiros do Arquivo Nacional, fruto da articulação da luta dos servidores públicos federais no Rio de Janeiro, principalmente nas greves do Ministério da Cultura e do próprio Arquivo Nacional[4]. Assim, esse grupo decidiu transformar a reunião semestral numa equipe de futebol para se fazer presente na Argentina.

Os integrantes do “Pelada da Esquerda” compartilham a compreensão de que é preciso desenvolver uma prática esportiva distinta do modelo hegemônico, difundido para a maioria da sociedade, marcado por um espírito competitivo e destrutivo das relações humanas, em que o prazer e a livre fruição do esporte são minimizados em nome de valores egoístas; também criticam o caráter mercadológico e reificado, que tem no consumo de produtos esportivos, baseado em valores de troca e fetiches de modas fugazes, o seu objetivo final, fator que não atende a contento os seus praticantes, que muitas vezes nem consomem os nutrientes necessários para uma prática esportiva saudável; e reivindicam que o esporte e o lazer sejam fomentados como política de Estado em caráter público, gratuito, universal, compreendidos como componentes para a formação integral do ser humano.

Nossa expectativa era em encontrar um ambiente de fraternidade, companheirismo e coletividade, em que os ideais defendidos pelo patrono da equipe anfitriã, Che Guevara, se materializassem em práticas diferenciadas no evento. Foi consenso entre os integrantes da equipe de que o evento foi marcado por uma disposição dos participantes em promover relações humanas mais harmônicas e solidárias, fato que se confirmou durante as partidas. Além disso, foram louváveis: a tentativa de que todas as equipes jogassem uma quantidade semelhante de partidas; a possibilidade de realizar substituições a qualquer momento, permitindo que todos os jogadores da equipe participassem durante tempo semelhante; e a realização de alguns jogos que contaram com a presença simultânea de homens e mulheres.

Contudo, a construção de uma experiência que se pretenda pioneira não está livre de imprevistos, nem sempre sendo possível de serem sanados de modo imediato. De modo a avançar na realização de um evento ainda mais rico e próximo de seus objetivos, ponderamos que os espaços de discussão política não conseguiram acontecer de modo a envolver os participantes, tendo em vista que não foi divulgada previamente nenhuma programação nem houve uma convocação para essas discussões. É imprescindível que haja uma melhor disseminação de informação, antes e durante o evento. Também registramos que, em determinados momentos, ocorreu pouca participação coletiva das equipes na organização do evento, o que também inclui o nosso time. Uma sugestão seria que, conforme as equipes se inscrevessem para participar, elas tivessem de se responsabilizar por alguma tarefa durante o torneio, de modo que o evento se consolide cada vez mais como uma produção coletiva, resultado de um esforço pela construção de um homem novo. No entanto, salientamos que tais ponderações servem tão-somente para acumularmos substratos que nos auxiliem na construção/organização das próximas edições da Copa América Alternativa.

Realizamos um balanço muito positivo – não tanto pelos nossos resultados dos jogos – de nossa participação na I CAA. Certamente vivenciamos uma experiência a ser relatada, compartilhada e difundida entre nossos alunos nas escolas onde trabalhamos e entre nossos amigos nas “Peladas” aqui no Brasil. Enfrentamos adversários da Argentina, Chile, Lituânia e Inglaterra, conseguimos uma vitória nos pênaltis contra os camaradas do Easton Cowboys e pretendemos organizar um confronto com o Autônomos & Autônomas FC, equipe vencedora da Copa América, denominado Recopa Alternativa. Além disso, é nossa intenção participar da próxima edição da Copa América, nos encontrando novamente com praticantes do futebol, que estejam presentes nas lutas contra quaisquer injustiças cometidas contra quaisquer pessoas em qualquer parte do mundo, vislumbrando e acumulando forças para a construção de um novo modelo de sociedade, para além do capital!


[1] Doutorando em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e torcedor do Clube de Regatas Flamengo.
[2] Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e torcedor do Botafogo de Futebol e Regatas.
[3] Está em fase de pós-produção um documentário sobre a Copa América Alternativa. http://www.youtube.com/watch?v=JKCwB76_8I0 – legendas em inglês. http://www.youtube.com/watch?v=FaXhuQyh4ec&feature=youtu.be – legendas em português.

[4] O time também contou com dois valorosos companheiros da cidade de Juiz de Fora (MG), um gaúcho, um colombiano e um cordobês.